Diante do Senegal, Bordo do “Bandeirante”, Constellation da Panair do Brasil. 3 de abril — O comandante Parreiras Horta é um cabrito que não gosta de desfrutar sozinho a sua horta. Manda convidar a pequena guarnição dos “Diários Associados”, que aqui viaja, para passar o resto da semana santa no Egito (e a Panair transformou o Nilo num subúrbio do rio da Carioca, um afuente do rio da Joana ou do Trapicheiro), a fim de vê-lo em ação. Êle comanda sorrindo. Confesso-lhes que até hoje, com exceção de uma viagem entre Terra Nova e Irlanda, num D.C.-4, só teno feito aviação de cabotagem, com Douglas costeiros. Sou um bisonho, que jamais vira até ontem, sequer em terra, o perfil de um “Constellation”.
Habituado às gabinas de comando dos J.U. e dos Douglas, não resisti a um grito de exaltação ao me encontrar na horta do Parreiras: Mas isto, amigo, disse-lhe eu, está longe de ser a horta de um cabrito do ar (e o nosso “Constellation” já entrara a dar uns pulinhos breves”), mas a fazenda de um Lunardelli da Via Láctea. Que rica plantação de instrumentos. Quem conhece os painéis de um Douglas ou de um “Fockwulf”, dos que têm a Cruzeiro do Sul, fica perplexo, mirando o luxu do material do “Bandeirante”. O trabalho é dividido. A equipagem opera em “team-work”. Cada uma das seções do corpo de comando está sob o contrôle de um especialista no seu ramo. Assim, pois, que temos, os rádio-operadores, responsáveis pelas comunicações, os navegadores, responsáveis pela precisão da rota, os engenheiros de bordo, responsáveis pelo funcionamento dos 10 mil cavalos que puxam a aeronave, os comissários, responsáveis pelas calorias que alimentam os passageiros, e os pilotos, que são os responsáveis pela trajetória a porto seguro.
Mergulhando o olhas de lince na fímbria do horizonte, o comandante Parreiras Horta mostrou-nos um ponto escuto, quase imperceptível, a 60 quilômetros presumíveis. Que seria aquilo? Uma advertência de mau tempo? A perspectiva de uma tempestade equatorial?
— Sim, respondeu sorrindo o piloto-chefe do “Bandeirante”. É um “pôt au noir” de Mermoz.
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Assis Chateaubriand, Panair em Revista, Julho/Agosto de 1947