A primeira “passagem teste” obtida pela IATA no Rio de Janeiro foi comprada a mando do fiscal John Nelowet, do então chamado “Enforcement Office”, em agosto de 1954.
A situação no Rio de Janeiro em matéria de descontos estava, de fato, tomando proporções sérias. Poucos meses antes, quando esteve fazendo uma investigação no Rio, o chefe dos fiscais da IATA, William Hoffman, teve oportunidade de discutir a gravidade do problema com alguns agentes de viagens. Segundo afirmou, sabia perfeitamente que as empresas aéreas eram as reais responsáveis. Logicamente, o agente não poderia estar oferecendo descontos superiores à sua comissão na venda. Hoffman, entretanto, tinha memória curta, como veremos a seguir.
Naquela altura, agência que não desse desconto não vendia passagem. A Avipam vendia passagem. Um belo dia, entrou em sua loja um modesto cavalheiro interessado em adquirir passagem de ida-e-volta a Paris “com desconto” – foi logo dizendo. “Quinze por cento está bom?” – fez o funcionário Edwaldo Diniz, um jovem paraense que mais tarde foi trabalhar na Varig. Estava! O “passageiro” mandou emitir o bilhete na hora e pagou na bucha.
O gerente da Avipam, ao saber da transação, desconfiou da facilidade e da rapidez com que foi concluída. O próprio Edwaldo estava um tanto espantado com a própria eficiência como vendedor.
Devia haver algo errado no negócio.
Investigações foram iniciadas e, ao cair da noite, completou-se a identificação do “passageiro”: era um modesto garção do Hotel Aeroporto. Fora induzido pelo fiscal Nelowet a comprar o bilhete como desconto, mediante gratificação.
Quando o garção terminou a labuta diária e deixou o Hotel, lá pelas duas da “matina”, foi “assaltado” pelo pessoal da Avipam e obrigado a confessar como, por que e a mando de quem havia adquirido a passagem, a menos que pudesse explicar satisfatoriamente como podia um simples garção dar-se ao luxo de passear em Paris.