Algo de namorada em cada aeromoça

Panair do Brasil, a escada pequenina, entrava-se no DC-3 baixando a cabeça e dobrando a coluna qual em templo japonês. Dentro, calor. Emoção. Voar era pasmo. Os brindes, surpreendentes para um menino. Cada tripulante: que imponente autoridade!… Minha mãe ajeitava a saída de ar. Tudo era taquicárdica novidade. As aeromoças eram aero e eram moças. Possuíam donaire, sim, donaire, algo ai pelo glamour, que era a forma de sedução discreta e possível antes de sex appeal, magia envolvente tão diversa do atual uniforme burocrático e mecanizado de quem deixou de ser aero e deixou de ser moça. Agora é “comissária”. Há algo de delegada em cada comissária. Havia algo de namorada em cada aeromoça da Panair.

E a emoção daquelas viagens o menino e o rapaz dos anos 40 e 50 ainda não alcançavam os méritos do pioneirismo ali significado. Abertura de rotas. Domínio de técnicas. Desenvolvimento profissional. Avanço tecnológico e empresarial. Formação de pessoal de ar e terra. Engenheiros de voo e radiotelegrafistas. Experiência de notáveis e corajosos comandantes.

Artur da Távola – Nas Asas da História – Lembranças da Panair do Brasil – 1996

Nota: o título do texto não fez parte da publicação original; foi colocado pelo Capítulo Anterior

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