Carro-bagagem: na era dos Cadillacs

Maio de 1982 – Entre 1950 e 1952 aconteceu o seguinte: existia na nossa lei de importação um “buraco”. Qualquer pessoa que fosse ao exterior poderia trazer em sua bagagem um automóvel, uma geladeira, uma rádio-vitrola, uma máquina de lavar roupa, além de outras unidades diversas. Estávamos no pós-guerra, os negócios desenvolvendo-se e dinheiro suficiente para os luxos. Todos queria possuir um carro. A importação era livre, entretanto o automóvel trazido como bagagem desacompanhada, não pagava nenhuma taxa de importação. Um carro comprado nos Estados Unidos, zero quilômetro, mais o custo da passagem de ida e volta e hospedagem por uma semana, somando ao transporte marítimo o preço de um Cadillac era ridículo, comparado a um carro importado pelos tramites normais. As taxas alfandegárias eram muito reduzidas.

 E da noite para o dia, surpreendentemente, as agências de viagens começaram a vender passagens para Nova York em número muito acima do normal. Os DC-4 da Pan Am, Braniff e Aerovias Brasil passaram a decolar do Rio totalmente lotados. Listas de espera imensas.

Alguém passou a industrializar o carro-bagagem. Um paulista, lógico. Primeiro eram os amigos convidados a passar uma semana nos Estados Unidos com tudo pago. E como todos tem poucos amigos, os convites passaram a ser estendidos aos amigos dos amigos. E logo depois a qualquer um era eleito e sorteado a uma maravilhosa estada na maior cidade do mundo. Bastava assinar uma série de procurações, transferência antecipada do veículo e recebia a passagem, uma quantia em moeda americana, que cobria a hospedagem e as refeições, com algumas despesas extras.

Turinews, 17 de maio de 1982

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