Só em torno de 1854 parece que começaram a aparecer os primeiros hotéis “que davam hospedagem” sem carta de recomendação: o Hotel Paulistano, de Adolfo Dusser, na rua de São Bento esquina da ladeira do Açu; o Hotel do Comércio, de Hilário Magro, na rua da Fundição (Floriano Peixoto) esquina do pátio do Colégio, pegado ao Teatro da Ópera; o Hotel da Providência, de Madame Lagarde, com bilhares, na rua do Comércio; e o melhor de todos eles, o Hotel Universal, do francês Lefebre, também no pátio do Colégio, onde começaram a se fazer ceias alegre de aristocratas. Quase da mesma época era o Hotel das Quatro Estações, que alguns anos depois, sob a direção de José Maragliano, pasaria a se chamar Hotel de Itálie a mais tarde Hotel de França. Em 1857 fundou-se o chamado Recreio Paulistano. E deve ainad ser lembrado o Hotel Palm, que aprece em uma gravura desse tempo bastante conhecida: um sobradinho no largo do Capim (do Ouvidor), com suas três portas diante das quais estão parados dois carros de boi. Era o antigo Hotel dos Viajantes, que em 1860 passou para a propriedade de Carlos Palm. O movimento desse hotel, como dos demais da época, não devia ser dos melhores a julgar por uma observação de Emílio Zaluar em 1860: a de que as hospedarias de São Paulo viviam apinhadas de viajantes. Aliás, quase que só forasteiros podiam ainda frequentar esses primeiros hotéis paulistanos, sem muito risco de desmoralização, a não ser talvez em ceias discretas. Aquele em que o francês Frédéric Houssay se hospedou em 1862 estava povoado de negociantes estrangeiros “que falavam todas as línguas”. Mas “a vida coletiva dos hotéis – observou Afonso A. de Freitas – feria a suscetibilidade da população com um aspecto de uma promiscuidade perigosa e intolerável”. Mulher que frequentasse hotel então caia logo na boca do mundo.
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História e Tradições da Cidade de São Paulo – Ernani Silva Bruno – 2º Volume – Livraria José Olímpio Editora – 1953