Meu caro Hoffman (fiscal da IATA)

Soube agora mesmo que você vai nos deixar. Compreendo que ser fiscal da IATA é um emprego bastante incerto. Hoje aqui, amanhã lá e depois quem sabe! Mas não deixa de ter sua parte interessante, pois você pode examinar nossa contabilidade, nossa conta corrente nos bancos, ver nossa emissão de bilhetes etc.Mas acho que sua profissão está ainda muito longe, pelo menos no Brasil , de ser uma profissão prática. O amigo, quando trabalhou no Panamá, não poderia ter encontrado dificuldade alguma, pois a concorrência lá entre PAA.BNF e TACA existe somente entre qualidade de serviço e não de preço. Aqui, meu caro, a coisa é outra. Manter uma linha como a nossa da América do Sul é muito difícil, principalmente numa época de “off-season” e ainda mais como o dollar a 38, sem dar descontos. Ou se dá um serviço de grande categoria ou então dá descontos. O desconto, para algumas companhias  é uma necessidade, como é o jogo de bicho. Desconto no Brasil existe desde que Santos Dumont deu a primeira voltinha no seu balão, em Paris. De maneira que acabar com ele de uma hora para outra seria um tanto difícil. Estamos à espera agora de seu substituto. Esperamos que o mesmo, antes de entrar na sua função exterminadora, analise bem a situação, seja compreensível no desempenho de suas atividades e, principalmente, escute antes de mais nada, a nossa de trabalhar. O que a IATA devia fazer é preparar um “rules & regulations” especial para o Brasil. Sugiro que você mande um bilhetinho a Mr. Rodolph Feick contando a ele tudo o que viu aqui e que você acha que somente com muita calma é que poderemos chegar a uma situação normal. Portanto, não creio também que o uso de estratégias não muito recomendáveis sejam usadas, pois não condiz com a ética comercial brasileira (desconheço a de outros países) nem muito menos com o nosso caráter (desconheço o dos outros). Portanto desejo que você seja muito feliz no seu próximo encardo e sinceramente – ADEUS.

Novembro de 1953

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