1968 – Um pequeno grupo de brasileiros, em Paris, nas vésperas do Natal de 1964, festejava uma vitória. Conseguiria ali elementos que ajudariam a dar o golpe fina numa trama que há anos vinha sendo cuidadosamente planejada. A vítima era a Panair do Brasil, empresa de aviação comercial brasileira, fundada em 1929. Os elementos foram fornecidos por um ex-funcionário da empresa e tão importantes eram que, a partir daquele momento, já se cantava a vitória. De volta ao Brasil, com os elementos tranquilamente conseguidos, começaram a funcionar a parte final do ardil e pouco mais de dois meses uma notícia abalaria o país: casadas as linhas da Panair! A razão alegada foi a “situação financeira irrecuperável”. Note-se que os elementos trazidos da França não foram usados, mas seriam, se necessário. Isso acontecia exatamente no dia 10 de fevereiro de 1965 e amanhã chega-se ao terceiro, sem que os 5.000 funcionários e à opinião pública tenha sido dadas as verdadeiras razões. Até agora os empregados da empresa fechada não receberam suas indenizações trabalhistas. Mas a grande verdade é que a Panair jamais teve uma situação em suas finanças, que não fosse recuperável. E a maior prova disso é que os únicos credores, e credores forçados, são os mesmos funcionários. O enorme patrimônio da companhia continua intocável e está, em grande parte, arrendado, rendendo-lhe vultuosa receita e os saldos bancários acusam hoje quantia superior a 25 bilhões de cruzeiros. Ou grande verdade é que o governo passado deixou de abrir o devido processo administrativo, como é constitucional nesses casos. Se esse processo tivesse sido instaurado, não teria sido a Panair fechada.
Diário de São Paulo – 9 de fevereiro de 1968