Ponte Aérea Rio-São Paulo, 20 anos

Junho de 1979 –

Fatos existem na história de nossa aviação comercial que poderiam ficar em total obscuridade. Mas para que isso não ocorra, quero relatar para vocês, como nasceu a Ponte Aérea Rio-São Paulo, a primeira do mundo e quando foi iniciada – em 6 de julho de 1959 – despertou imensa curiosidade. Recordo-me que aqui estiveram diretores de companhias de aviação dos Estados Unidos e da Europa, para conhecer sua organização e métodos. A concepção da pontem a meu ver, foi o grande acontecimento da nossa aviação, após o seu surgimento.

Quem teria “inventado” a Ponte Aérea? Uma grande agência de publicidade? Um gênio da aviação comercial?

Tudo começou nos primeiros meses de 1959 no Aeroporto de Congonhas, São Paulo. A Real, então uma grande empresa de aviação, dirigida por Linneu Gomes, era a dona do transporte aéreo no Brasil. Sua frota de DC-3 era a maior do mundo, da mesma forma que possuía a maior rede aeroviária. Empresas agressiva, disputava passageiro por passageiro. Em Congonha, para lotar todos os voos São Paulo-Rio, gratificava com 5 cruzeiros todo o carregador que lhe encaminhasse um passageiro. Uma concorrência desleal, mas válida na época.

As companhias diretamente prejudicadas era a Cruzeiro, a Varig e a Vasp, pois tinham mais frequências. E os seus Gerentes de Aeroporto, por conta e risco, decidiram enfrentar a Real. Reunidos no restaurante daquele aeroporto, traçaram as primeiras fases da reação: cada um iria reter seus aviões na pista, escalonando partidas, evitando decolagens simultâneas ou muito próximas. Além disso, tanto a Cruzeiro, com a Varie a como a Vasp, venderiam passagens em qualquer um de seus vos e mais ainda – algo inédito – aceitariam reciprocamente os bilhetes, fornecendo a ficha de embarque. O plano foi posto em execução. Os cariocas “habitués” da São Paulo -Rio logo se acostumaram com a nova ideia e já podiam ter a certeza de um retorno tranquilo. Em poucos meses, as três companhias passaram a oferecer em Congonhas um excelente serviço entre nossas duas maiores cidades e as estatísticas comeram a apresentar resultados positivos: os voos São Paulo-Rio antes mal aproveitados, estavam saindo lotados. Quem primeiro percebeu o fenômeno foi Rubem Berta, fundador e presidente da Varig. Veio a São Paulo especialmente para conferir. E foi saber dos fatos com o Gerente de Aeroporto da Cruzeiro. Ouviu atentamente a explicação e dois minutos depois voltou para seu avião e partiu para outro destino. Dias depois, Berta procurava os presidente Bento Ribeiro Dantas, da Cruzeiro do Sul, e Oswaldo Pamplona Pinto, da Vasp. Por que não tornar oficial essa brilhante ideia dos gerentes? E dentro do maior sigilo, iniciaram-se no Rio, reuniões entre as três empresas, para estabelecer regulamentos e normas para criar o que foi chamado de Ponte Aérea Rio-São Paulo. Essa denominação, até hoje, ainda não se sabe como surgiu. Possivelmente em relação com a Ponte Aérea de Berlim, então mencionada dos jornais, pois os americanos estavam tentando salvar milhares de alemães retidos na zona russa daquela capital. Da comissão faziam parte: o Gerente de Aeroporto da Cruzeiro do Sul, de São Paulo, além de Germano Schroeder, Maurício Campos e Edgard Kersting, este último hoje diretor da Varig no México. E numa dependência da Cruzeiro, no Rio, a comissão funcionou até que pode apresentar ao D.A.C. o plano final, que respeitando o sigilo, autorizou que a Ponte entrasse em atividade. E numa determinada madrugada, aqueles três gerentes, auxiliados por coletas e carpinteiros, montaram entre quadro colunas ainda existentes, o primeiro balcão da Ponte. E na manhã do dia 6 de julho de 1969, apoiada por intensa publicidade (coordenada por Clóvis Azar, da Varig) foi inaugurada oficialmente a Ponte Aérea Rio-São Paulo.

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