Saneamento da aviação comercial brasileira

Das medidas para endireitar o estado de cousas a que chegamos na nossa navegação aérea, a mais importante será, sem dúvida, o saneamento industrial das empresas, que deverá ser superintendido pelo titular da aeronáutica civil no duplo papel de amigo da indústria e de juiz do interesse público, removendo o desentendimento que lavra, há anos, entre os dirigentes das nossas companhias, para por-se paradeiro ao prejuízo resultante do excesso de competição que arruína essa atividade me a coloca na repetida postura de pedinte de subvenções e favores nas ante salas das repartições e nos saguões do Congresso Nacional.

É interessante analisar, em breve traços, o que fez chegar a esse estado de lastimável penúria uma aviação, a segunda do mundo, em volume de momento doméstico. Da historiação dos fatos talvez resulte, em parte, a conclusão dos remédios. Dirão alguns que para tanto contribuíram o descuido e desinteresse até relapsos do governo – a nossa legislação e os dissídios trabalhistas – o aumento do câmbio de custo, o aviltamento da moeda e o baixo pode aquisitivo do usuário brasileiro, além de outras cousas mais, o que tudo tem procedência, não sendo porém a verdade toda. De nossa parte preferimos situar , desta vez, o tema num plano mais amplo, examinando nesse e noutros esboços que se seguirão, os males do próprio sistema, os quais, a essa altura, só poderão ser superados pela reconciliação das partes, de comum acordo com o governo, sob pena de terminarmos, a curto prazo, nos braços duma Aerobraz, que apavora, a um tempo, usuários e autoridades, mas acabará sendo a dura realidade, se não se mudar duma vez o rumo da nau.

Discurso de Rubem M. Berta, presidente da Varig – 10 de fevereiro de 1961

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