O paulista Wagner Canhedo, 54 anos, construiu sua fortuna mineiramente, na surdina. Na juventude, ele foi motorista de caminhão. Em 1956, ganhou seu primeiro milhão de dólares vendendo ao governo, que construía Brasília, madeira que arrancava e duas fazendas suas no norte do Paraná. Desde então, acumulou milhões de dólares com velocidade e solidez de um caminhoneiro acelerando numa estrada nova e vazia. Canhedo se tornou um home rico, muito rico: tem um patrimônio avaliado em 1 bilhão de dólares. Na semana passada o ex-caminhoneiro concluiu um negócio que o tirou da sombra, já que até então ele era conhecido apenas pela sua empresa de ônibus urbanos, a Viplan, de Brasília. Na tarde de terça-feira, num leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, ele comprou por 42 milhões de dólares a segunda maior empresa de aviação do país, a Vasp, do governo de São Paulo.
Canhedo foi o protagonista central da maior operação de privatização jamais realizada no país. Além de dispor de quantias formidáveis em dinheiro, ele armou o negócio com sabedoria: aliou-se aos funcionários da companhia, calando a boca de todos aqueles que eram contra a privatização por ela representar um perigo para os trabalhadores da Vasp, e tirou da parada uma formação de gaviões que cortejava a empresa. No primeiro round da disputa, quando o governo de São Paulo anunciou que ia mesmo privatizar sua companhia de aviação e publicou o edital, 64 empresários se alistaram. Deles quatro fizeram propostas concretas, mas apenas dois se habilitaram ao leilão: o próprio Canhedo e um empresário de respeito no setor da aviação comercial brasileira, o comandante Rolim Amaro, dono da TAM.
Na última hora, Amaro desistiu e Canhedo foi o único a apresentar-se diante do martelo, aplaudido por uma torcida formada por funcionários da Vasp.
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Revista Veja – 12 de setembro de 1990